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Cyro Martins - Um Realista Esperançoso | Imprimir |  E-mail

Cláudio Martins - Médico Psiquiatra


Neste mês de novembro que estamos comemorando o primeiro ano do Centro de Estudos de Literatura e Psicanálise Cyro Martins, e no primeiro número da Revista CELPCYRO, ocorreu-me apresentar algumas idéias e lembranças vinculadas a meu pai, que representam muito de seu "modus vivendi".

Revendo um dos seus manuscritos, deparei-me com a sua habitual singeleza, quando pinçou da obra de nosso poeta imortal, Mario Quintana, um de seus poemas como um resumo da sua visão e entendimento das relações humanas. O poeta escreve:

"A arte de viver
É simplesmente a arte de conviver...
Simplesmente, disse eu?
Mas como é difícil!"

A partir dessa imagem poética, associada a outras fontes de conhecimento tanto teórico como de sua imensa bagagem clínica, de quem exerceu a medicina por mais de 60 anos ininterruptamente, costumava dizer "que os homens ainda não aprenderam nem a criar os filhos nem a conversar. O dia que essa graça iluminar a humanidade certamente a vida passará a ter outras cores e não estas lúgubres de hoje".

Essa era uma de suas mensagens que mais procurava transmitir em inúmeras conferências que tive a oportunidade de presenciar. A observação do funcionamento familiar grupal era uma maneira sua muito peculiar de buscar para si e ajudar os outros a encontrar uma melhor qualidade de vida. Isso se manifestava pelo seu permanente estímulo ao desenvolvimento e à produção humana de todos que o cercavam.

Dr. Cyro, assim chamado afetiva e respeitosamente pela grande maioria de seus colegas e amigos, manifestava continuamente sua visão humanista tanto através de suas mensagens como pela sua conduta ética e por seu grau de afetividade e bondade costumeiros, o que o tornaram um exemplo que muitos buscam seguir. Isso o mantém sempre presente na memória dos amigos, incansáveis na demonstração de carinho e afeto, como na lembrança de seus familiares.

A sua energia de vida, permanente e admirada por todos que o cercavam, alimentava-se muito da visão humanista, que o caracterizou nas letras e na ciência, auxiliando-o na superação das adversidades de sua vida com determinação e coragem.

Do menino simplório dos pagos do Quaraí à personalidade pública, reconhecida e respeitada, houve uma trajetória que se enquadra dentro do pensamento humanista visando ao aperfeiçoamento do indivíduo e à harmonia social. Isso se enquadra perfeitamente no seu legado de sabedoria, adquirida no transcorrer de uma vida sob o signo de um desenvolvimento contínuo nas áreas afetiva, profissional, cultural e de lazer, tornando-o um daqueles homens singulares que representam o que há de mais nobre e poderoso no ser humano.

Mesmo quando se deparava com inúmeros temas e situações que, num primeiro momento, pareciam intransponíveis, a sua tenacidade o levava a pensamentos e ações que reorganizavam o rumo de vida. A seguinte vinheta de um de seus trabalhos ilustra melhor tal assertiva:

" Aos adultos válidos, as crianças e os velhos estorvam uma barbaridade. Como as creches se parecem com os asilos: não importa que umas estejam no começo da marcha que arranca para a vida e os outros na extremidade melancólica do declínio dos desamparados. Quanta promessa de ajuda! E não adianta a gente se comprometer acusando o mundo de capitalista. A essência humana que domina é o rancor pelo fraco. Mas as creches e os asilos desempenham uma grande missão social: salvam a honra da civilização. Vejam: há soluções." ( leia o texto na íntegra)

Para concluir este misto de recordações e pensamentos, citarei uma passagem que o "Dr. Cyro" escreveu por ocasião de uma homenagem póstuma ao seu colega e amigo Mário Martins, que representa a sua visão singela de ser recordado pelos amigos:

"Certa vez – faz isso muitos anos, vinte e cinco talvez – estávamos ainda no Edifício Godoy, conversávamos, Mário, Laura Pichard, visitante, e eu. Foi um entardecer, pós-tarefa. A conversa abordava o futuro de nossas Sociedades, a de Porto Alegre e a de Montevideo. Como soe acontecer nessas conversas vadias, fomos ladeando os problemas institucionais e chegamos às nossas pessoas. Por certo, outros nos substituiriam. E os nossos retratos – disse eu – iriam um dia encher o vazio das paredes do auditório. ¨ Ele está muito otimista¨ - atalhou o Mário, dirigindo-se a Laura.

Não. Eu estava dentro do meu realismo esperançoso de sempre. Prova-o o retrato e a placa que inauguramos hoje, festivamente..."

Pois, parafraseando meu pai, penso que o "realismo esperançoso" foi uma de suas grandes mensagens que ficaram presentes aos que conviveram com ele e que co-participaram de seu inventário científico e afetivo.

Cláudio Martins

novembro de1998